William Waack passa do ponto

Um vexame. Eu vi. E o protagonista foi o jornalista William Waack. No programa GloboNews Painel da edição de  9 de agosto, sábado, ele pisoteou a ética profissional com vontade. Passou do ponto, literalmente. E o que deveria ser uma entrevista sobre a situação econômica do Brasil – estamos caminhando para uma recessão? – virou espaço usado por ele para acusar o governo de “intolerante diante das críticas”. Fez isso repetidamente. E fez pior: recomendou cuidado aos economistas convidados – Luiz Gonzaga Belluzzo, da Facamp; Gesner Oliveira, da Go Associados; e Nelson Marconi, da FGV –, dizendo que uma opinião contrária ao discurso do Planalto poderia representar “perigo” aos três.  Queria intimidá-los? Parecia que sim.painelO comportamento de Waack nesse programa contrariou tudo o que aprendemos como sendo correto quando, na prática jornalística, a tarefa é entrevistar alguém. Gesner Oliveira recebeu a primeira pergunta. E sua resposta – “longa” – foi interrompida pelo apresentador, sob pretexto de passar a palavra a Belluzzo. Antes disso, porém, ele deu início ao que chamo de jogo sujo, contrabandeando para dentro da entrevista a denúncia sobre a alteração feita no perfil de Miriam Leitão e Sardenberg no Wikipédia a partir de computadores instalados no Palácio do Planalto.

Dali em diante atropelou o bom senso. Deixou claro que tem a culpa do governo nesse episódio como questão fechada, desconsiderando um fato importante: o equipamento usado para alterar os dois perfis fica numa sala de trânsito intenso, à qual muita gente tem acesso. É assim? Então, já que estamos em clima de desconfiança, qualquer um dos que frequentam a dita sala pode ser apontado como réu. Não é? Quem pode garantir que não foi alguém da própria Rede Globo quem planejou matar dois coelhos com uma cajadada, atingindo os colegas e, ao mesmo tempo, dando uma mãozinha a Eduardo Campos e Aécio Neves? Por isso mesmo essa história deveria ser muito bem investigada.

Aos que assistem o GloboNews Painel não passa despercebido – não tem como não notar – a frequência com que Waack alardeia sua vasta experiência, inclusive como correspondente em outros países, entre os quais a Alemanha. Mas no meio dessa gente há os que ouvem, pensam sobre o que ouvem e não perdoam leviandades como a que ele cometeu na edição de sábado, quando misturou alhos com bugalhos e jogou a ética profissional no lixo. E esses telespectadores não se deixam enganar assim tão facilmente.

Primeiro, porque raciocinam: a turma que está no poder e quer continuar lá seria tão simplória em sua estratégia de campanha eleitoral? O que ganharia com isso? Ganha quem lhes joga a culpa sobre os ombros. Além disso, telespectadores atentos percebem a maldade no tom de voz, mesmo quando quem fala usa a palavra como se estivesse aconselhando. Por isso, não lhes escapou no sábado que, ao recomendar cuidado aos convidados do programa, William Waack tinha outro alvo. Usando a vitrine da Rede Globo, pretendia que sua mensagem assustasse o eleitor. É ele quem deve sentir-se em “perigo” diante da intolerância do governo às críticas. Porém, o apresentador está mais uma vez superestimando sua capacidade de influenciar corações e mentes, pois quem decide a eleição é outro público, bem mais numeroso, que não vê o GloboNews Painel.

Ainda assim, o que William Waack fez na edição do programa de sábado passado ultrapassou os limites da malandragem. Foi sujeira. Da grossa. E foi também um atestado de superficialidade. Coisa de narcisista, que notaria a existência de gente bem melhor que ele se tirasse os olhos do próprio umbigo. Bem perto dele, aliás. Renata Loprete, por exemplo.  Waack deveria pedir à colega que lhe desse umas aulas.

x.x.x.x.

O tempo não para. Ele passa, correndo. Nessa corrida, pessoas mudam. Sobre William Waack não mudo uma linha do comentário que publiquei em 2014, mas já não diria o mesmo de Renata Loprete, que se revelou muito parecida com ele ao longo dos anos. Isso provavelmente explica sua condição de substituta oficial dele.

Um comentário em “William Waack passa do ponto

  1. Maria, li teu texto mas não assisti o programa portanto não posso opinar a
    respeito da postura dele. Acho que ele se acha o “astro” como apresentador e
    entrevistador.Em relação ao que eu penso sobre o futuro do Brasil vou te dizer isso
    pessoalmente.

    Eunice

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